É a pior dor...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Prender o dedo numa porta dói. Cair de bicicleta dói. Morder a língua dói. Levar um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Bater o dedo, tropeçar em algo, dói tanto. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um amigo que mora longe. Saudade de um lugar infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade de alguém que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, de quando éramos crianças e nem tínhamos responsabilidades, de quando nossa maior preocupação eram as brigas com o irmão mais velho, o dinheiro pra comprar balas, ser aceito pelas crianças.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos, daquele abraço, da mordidinha no pescoço, da voz suave. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na cozinha e ele na sala, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o Sul e ele para o Norte, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter, como acabar. É um sufoco mesmo.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua tendo aquela alergia à chocolate. Não saber mais se ele continua fazendo o tratamento no joelho. Não saber se ele ainda usa o perfume que você deu. Se ele ainda tem as fotos no computador. Não saber se ele tem comido besteiras de rua, se ela tem assistido as aulas de espanhol, se ele aprendeu a ser mais responsável, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando e bebendo, se ela continua preferindo Coca-cola, que tanto lhe faz mal, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua sonhando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais longos, não saber como encontrar atividades que lhe cessem o pensamento, não saber como parar com as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ela está com outro, se ele está feliz, se ela está mais magra se ele está mais belo. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer tanto.


Natália Vieira Costa

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