Todo mundo tem lá seus períodos de chuva. Só que minha vida tem permanecido num inverno constantemente. Inverno e frio mesmo no verão. Frio só por estar só mesmo. Um frio só por precisar de alguém. Até dói um pouco as vezes. Por hora, as coisas não passam de cicatrizes, recentes, mas, cicatrizes que insitem em não fexar por completo, que eu esqueço... No entanto, são feridas que sempre doem um pouco nos dias de chuva, como hoje...
Já diz Caio Fernando de Abreu:
'' Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva.''
E é só a realidade mesmo. Por que algumas coisas sempre voltam nos dias de chuva? Lembranças apagadas. Chuva, tão bela, tão nostalgica, tão eu mesma. Tão bom pra mim. Bom e ruim, melhor do que pior para ser sincera. Apesar da dor constante, gosto. Se gosto de sofrer? Não sei, ultimamente já não me importo não, contanto que meus amados, que os que me fazem rir estajam bem, gosto até de minha dor. A curto sozinha, na varanda, tomando a chuva no rosto, molhando o corpo, deixando a roupa colar em mim, ficando por inteiro transparente para o céu, como sempre o fui por vontade de me mostrar para o nada, para ninguém, para o vazio, só para o cinza claro/escuro, para um nublado lindo, do céu chuvoso, o nublado que representa minha vida momentânea...
Não é fácil ignorar meus sentimentos a toda hora, por a máscara do ''sou inabalável'' e fingir que nada me atinge. Muitas coisas, se não têm me causado reviravoltas, pelo menos têm feito minhas cicatrizes arderem, queimarem como fogo. Só quero ser forte, pelo menos fingir para que os outros se sintam bem. Não quero pena, não sei se quero ajuda, não sei como ser ajudada. São só gritos secos agora, gritos abafados para que o vazio me ouça... Nunca quis admitir minha fraqueza. Os dias de chuva me deixam forte, por que admito que sou fraca, frágil, e, mais quebradiça que a porcelana. Tão sensível quanto uma pétala de uma rosa. Qualquer aproximação mais bruta me machuca demais, me apavora, me transtorna. Um pouco de medo acho, só sou assustada agora. Nova ainda, mas, assustada com algo que não sei explicar. Acho que as pessoas. Medo de gostar. Medo de me ferir. Já tenho tantos buracos no peito. Era um só, mas cada pessoa que eu abro espaço para se aproximar de mim, me decepciona. Não se satisfazem com minhas ruínas, são todos egoístas, como eu, querem abrir um buraco só deles. Como se não bastasse, sou agora uma casa em ruínas, o menor sopro do vento irá me derrubar. Não sei me reconstruir, ninguém sabe...
E a chuva continua a cair, as feridas só fazem se abrir. Sangram até. Mil motivos, e, não sei dizer nenhum... Não vou chorar. Quero sim bancar a forte! E dai? É pecado? Não! Só quero ouvir a chuva cair e sangrar até a ultima gota! E, aguentar tudo sem lágrimas. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Quero ser impossível. Entende? Quero fazer diferente! Mazoquista até, quem sabe. Ultimamente não me importo mais em sofrer, desde que machuque só a mim. Egoísta também com minhas dores. Quero-as todas para mim.É só que alguns insistem sem pisar todos os dias. Como se não bastasse a ferida, alguém insiste em jogar sal as vezes. E outras vezes enfiar uma faca afiada bem fundo, e mexer, remexer, até que eu grite! Mas, não consigo gritar, e a dor continua O alguém se cança e tudo para!
...
Lá fora a chuva continua a cair, e aqui, dentro de mim, começa a surgir uma tempestade. Tornado avassalador. Rasga tudo mesmo. Sem dó. Dilacera cada pedaço que ainda possa permanecer intacto. E minha confiança vai embora, aos montes no momento. É como se fosse só eu e minha tempestade, no meu planeta solitário que ninguém pode povoar ainda...
Cansada por hora... De tudo no momento, de muitas coisas. Das pessoas.De esperar o que não chega. De não saber o que esperar. Só cansada de viver mesmo. Como três vezes anteriores, mes que vem, é mês de Agosto, tempo de mudanças. Tempo de fazer uma loucura. Por tradição é claro. Não. Dessa vez não vou fazer nada que me machuque, não fisicamente... Fui por hoje, axo...
Natália Vieira Costa


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