23/06/2011- Aquele banquinho no meio do quintal, lá, desde que me conheço por gente. Meu pé de jabuticaba, todo velho, e feio pros outros, mas, bonito e cheio de vida pra mim. No inverno é como se ele dormisse... Me lembro de outra coisa, nos invernos passados, lá não tinha TV... O que obrigava meus pais a fazerem fogueira todos os dias, e assar muita coisa pra comer, e sair com a perna cinza... e o ficar rodando, fugindo da fogueira... e o virar-se, esquentar atrás, vira de lado, depois vida de frente, o cabelo ressecado, o rosto ‘querendo’ descascar... deitar cedo, dormir muito, sonhar demais... Foi a época que mais sonhei, os invernos por lá eram legais... Ir no rio, e ver a água saindo fumaça de gelo, triscar o pé na água, sentir o frio percorrer a espinha, um arrepio instantâneo e a dor nos ossos...
Comer comidas fumegantes, milho assado, amendoim demais, churrasquinho na fogueira, eu jogando coisas variadas na fogueira, a brincar com o fogo, e o breu ao redor... As vezes tínhamos a companhia de algum vizinho, vinham de longe atraídos por nossa grande fogueira, e contavam casos, histórias, piadas, o cheiro do fumo, a cachaça, contos de pescador... Bom demais... e, as vezes eu achava entediante, só que era bom... Eu hibernava mesmo, sem dó. Tinha dia que era cama dia e noite, com meu som, ouvindo meus CDS, ou ouvindo a rádio local (que era óotima, hoje foi fechada, rádio pirata)... Também lia, devorava livros e mais livros, e, olhava pro teto, e imaginava muitas coisas boas... e tinha a mata, congelante, e no inverno silenciosa, com aparência de perigo no ar, mistério, bichos com cara de espanto, a névoa, os matos molhados de orvalho...
O verão por lá, também sempre foi cheio de charme... Pássaros variados na minha janela, nas árvores próximas da casa, poder pescar no rio, eu sempre amei brincar com as rãs, todo mundo tem nojo, menos eu... eu passava mal de diversão, em segurar duas rãs gigantes na mão e ir correr atrás de alguém, ameaçando jogar a bichinha (não era só ameaça, muahaha). Ficar passeando o dia todo no mato, procurar cachoeiras e pedreiras, o banho no rio, a mata repleta de vida, com barulho, bem contrária ao silêncio e ‘terror’ do inverno... as frutas do verão... o calor infernal também, ficar até tarde da noite lá fora pra ver se refrescava.. Andar de noite com meu pai, com a lanterna, rir de medo das cobras nas estradas, ver a cara de preocupação da minha mãe ao chegarmos em casa. Passávamos em todas as casas das beiras de estrada, um café aqui, um requeijão ali, rosquinhas, queijos, minha mãe nunca ia com a gente, nunca mesmo, ela perdia a diversão. Às vezes a lanterna queimava, ou acabava a bateria, e nós dois ficávamos no breu, se a LUA tivesse iluminando, menos mal, mas, sem Lua no céu, era caus mesmo. Eu grudava na mão de painho, íamos tropeçando no meio da estrada, imaginando que poderíamos pisar numa cobra. Meu pai fazia barulhos de bichos pra me matar de medo... E em casa minha mãe esperando com a comida, mas, a gente já tava cheio de tanto comer, ela se irritava, mas, logo ria junto, dos casos da noite... E eu acordava cedo, ia pro curral ajudar o vaqueiro, tomar leite, por remédio pra acabar com os carrapatos das vacas, brincar com os bezerros, cavalgar pela manhã, sinto falta disso, é delicioso... A melhor coisa que pode ter, estar encima dum cavalo, sem cela mesmo, por que vocês dois precisam se sentir, serem livres... dependendo do cavalo, é incrível, grudar no pelo dele, ir com e sem medo, andar nas trilhas da mata, passar aqui e ali na casa de alguém, dar milho na boca do cavalo, observá-lo beber água no rio... E atravessar o rio correndo, sentir a água voar, respingar no rosto... Não tenho mais o meu cavalo, não o meu, de antes... A magia é boa, o corpo, alguma coisa lá dentro, da sinal na barriga, nas costas, sobe pro cérebro, é uma sensação deliciosa, as vezes o pelo do cavalo se eriça... Eu adorava também, levar comida numa bolsa e livros, ir pra cachoeira, ver o cavalo pastar, ler... Com O Mundo de Sofia foi mágico... Num lugar bom, belo, lendo aquele livro e, perceber que eu me admiro e muito com o mais simples, a borboleta na flor, a joaninha, delicada e inexplicável sob a folha, as abelhinhas, o trabalho das formigas, as minhocas, os peixinhos do rio, as aranhas, os sapos, uma flor no alto de uma árvore, os galhos tortos, ervas penduradas nos troncos, árvores velhas cheias de ninhos, as capivaras, ver um tatu correndo vazado... uma cobra rastejando por entre os matos, um sapo com algum bicho na boca, o céu, e de repente, o cavalo, abaixado do meu lado, com as fuças respirando no meu rosto, pedindo um afago no pescoço...
Nati...
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"Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto..."
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- - O inegável de mim: Natália, 24 anos. Somos sempre suspeitos a falar de nós mesmos. Podemos ''mentir muito'' ao nos caracterizar... Acho que vê melhor, quem está por fora... Direi o suficiente...Sinto prazer em ler e escrever... desenhar, pintar e ver filmes... Procuro na escrita uma maneira de me expressar, não para o mundo, mas, para mim mesma... Me compreendo dessa forma.. Cada texto meu é como estou me sentindo no momento. Posso olhar o que escrevi hoje, e alguns meses depois rir daquele dia ao ver que tudo passou.. .Ou me sentir um pouco mal ao recordar por minhas palavras o quão grande foi a dor naquele momento... Quem nunca sofreu um pouco por causa da nostalgia que é viver...?
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Se olho para essas lajes, vejo nelas gravadas as suas feições.! Em cada nuvem, em cada arvore, na escuridão da noite, refletida de dia...
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... ... só ...... .. sempre só .... ... estou sempre assim... eterna solidão... eterna dor.. infinito mal estar.. frio... está tão frio....
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