05/06/2011 - Gosto muito de te ver, leãozinho, caminhando sob o sol, gosto muito de você, leãozinho, para desentristecer, leãozinho, o meu coração tão só, basta eu encontrar você no caminho... Um filhote de leão raio da manhã,
arrastando o meu olhar como um ímã... O meu coração é o sol, pai de toda cor, quando ele lhe doura a pele ao léu... Gosto de te ver ao sol, leãozinho, de te ver entrar no mar, tua pele, tua luz, tua juba, gosto de ficar ao sol, leãozinho, de molhar minha juba, de estar perto de você e entrar no mar... CAETANO VELOZO’
E o leãozinho sempre à beira do penhasco, rindo da altura, sarcástica à desgraça alheia, desde que essa não fosse a sua... E sempre gargalhando ao próprio azar, claro, é preciso rir mesmo, fazer da vida um poço sem fundo de graça, ou que seja sem graça, dês-graça mesmo...
E corria, despreocupada de tudo, na relva e ao léu, é claro, e, chegava à campina, refúgio encantado do filhote de leão, tão quente, o sol escaldante, tão frio, a névoa congelante, não importava o clima, nem o sentimento, toda sensação que fosse forte, bom ou mal, era descarregado por lá mesmo, ou rindo ou chorando, estudando, cantando, pulando, ouvindo, falando só, rugindo, à procura de outro leão até...
A água sempre daquela transparência quase que inexistente, de bom sabor, e o leãozinho caia de cabeça naquela água, a tentar pegar algum peixe, a molhar a juba, a sacudir-se toda, a brincar com as pedras, a receber o sol, a estar só, e, ao mesmo tempo completa por tudo, toda aquela natureza, tudo tão magnífico, exuberante, elegante, selvagem, tão a cara de um leão...
E toda aquela graça e ferocidade felina tomava conta do ar, tudo vira festa, briga, graça, pura energia e ironia como sempre e... Ironia foi perceber que era observada por um ser desconhecido, que até o momento permanece nas sombras mesmo, penso que nunca será possível descobrir a origem daquele animal tão único e complexo, de aparência amigável, e olhar endemoniado, e, por esse dia e outros seguintes, o leãozinho abandonou mesmo o local, e toda a felicidade do correr pela mata, fugindo de algo e atrás de alguém... Pena ter abandonado um local tão seu, que parece pertencer a outro agora, a alguém superior ao indefeso filhote, filhote que agora cresceu e, que quer sua campina de volta, juntamente com suas pedras, árvores, flores, seu sol, e poder ter de novo o sentimento de liberdade, sem ninguém por perto, e molhar e sacudir-se, tão sem roupa, com a beleza da nudez, não de forma vulgar, não sei explicar como e, sem tecnologias e barulhos... É só a liberdade que a mata fechada e virgem pode oferecer ao animal, protegendo até mesmo um filhote, também até, o dia do aparecimento de um ser desgraçado e infeliz...
Antes, à solta, bagunçada, rasgada por arame farpado, machucada por pedras, mas, melhor. Hoje, impecável por fora, sociável, mas, com uma agressividade imensa escondida, com as garrinhas guardadas e as presas escondidas, tudo guardado até demais, de forma tão covarde que machuca alma qualquer que não esteja preparada para mentir tanto ao mundo.
Mas, o animal agora é outro, apresenta-se em corpo de mulher mesmo, das piores, das mais envenenadas e sarcásticas, pronta para atacar e defender, defender o que for amado, um alguém, ou, até mesmo um lugar, seu lar, seu passado, seus sonhos e fantasias, e, lutar pela vontade de ver de novo aquele azul brilhar... A coragem, vejo que cresceu muito, ainda mais agora, constantemente próxima da ameaça, de um ser idiota e tolo, que, não sabe com que fera mexeu... É só se agachar mesmo, por as garras pra fora, fincá-las na sua terra sagrada, por as presas a mostra e rugir bem alto, sacudir a juba, claro, é um charme de animal-mulher, e olhar, buscar o perigo, e aguardar a ameaça, e saborear cada segundo de desafio, e, ao êxtase do momento partir para o ataque... Sentir o cheiro do sangue quente, do coração acelerado, do medo, o gosto do sangue, ver o medo naquele olhar ameaçador, a vingança é doce, demais, saborosíssima... E no final rir de tudo, ficar perto do brilho azul, e, fazer a pose que espanta, um leão bem bravo, com cara e pose de leão, olhando de cima, de forma assustadora e fazer: BUH! E ver o animal correr... OU NÃO... Só estou curiosa mesmo, talvez, com certeza, não será assim tão fácil. Mesmo assim, a tentativa, com sucesso ou perda valerá a pena, só por sentir o gosto do desafio queimar na veia e arder bem fundo...
Natália Vieira Costa
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Tecnologia do Blogger.
Total Pageviews
Sample Widget
"Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto..."
Blog Archive
About Me
- Real Place
- - O inegável de mim: Natália, 24 anos. Somos sempre suspeitos a falar de nós mesmos. Podemos ''mentir muito'' ao nos caracterizar... Acho que vê melhor, quem está por fora... Direi o suficiente...Sinto prazer em ler e escrever... desenhar, pintar e ver filmes... Procuro na escrita uma maneira de me expressar, não para o mundo, mas, para mim mesma... Me compreendo dessa forma.. Cada texto meu é como estou me sentindo no momento. Posso olhar o que escrevi hoje, e alguns meses depois rir daquele dia ao ver que tudo passou.. .Ou me sentir um pouco mal ao recordar por minhas palavras o quão grande foi a dor naquele momento... Quem nunca sofreu um pouco por causa da nostalgia que é viver...?
Popular Posts
-
Se olho para essas lajes, vejo nelas gravadas as suas feições.! Em cada nuvem, em cada arvore, na escuridão da noite, refletida de dia...
-
... ... só ...... .. sempre só .... ... estou sempre assim... eterna solidão... eterna dor.. infinito mal estar.. frio... está tão frio....
0 comentários:
Postar um comentário