
E ela baila sem descansar... sempre tão bela, leve como uma pluma no ar... esvoaçante a sempre dançar. A jogar pernas e braços, corpo e abraço para lá e para cá... E busca em cada dança se achar, se gostar para depois procurar quem amar. Porque, ela não ama, ainda não. Está a flutuar por lá e por cá, piruetas e mais piruetas, a sacudir tão vazio coração...
_ Linda bailarina que baila tão só! Onde está seu quebra nozes? Espero que não haja um.
E vive a bailarina, a ficar sempre na ponta dos pés, à girar, a deslizar. Esconde a essência do que no fundo pode ser. O palco está a frente, a platéia não consegue se acalmar. Todos te querem na ponta dos pés. Vá, faça o que sabe fazer de melhor, ficar perdida bailarina, pra nunca mais se encontrar. Deixe que pensem que é só teatro, e minta sua realidade descaradamente, sem esconder a verdade no olhar, já que poucos vão perceber a magia da sua dor... que é o mais belo sentimento do espetáculo. Só o show é que importa. Aplausos!Mais aplausos! Por favor!
_ Faço desse palco céu e inferno, me dobro e desdobro, faço esvoaçarem meus retalhos, caio em pedaços no palco, venho do céu, para ir às profundezas do inferno... me aprofundar em mim mesma, a girar... girar... girar...
No meio do baile, seu coque se desfez... Sua tiara de "princesa", se soltou... Não se preocupe, as mechas não vão te atrapalhar, sabe por onde ir, feche os olhos e se deixe levar... voar... voar... voar... Sei que é a melhor, te observo flutuar sempre que o posso fazer. Tão bela...
Esqueça um pouco a dor que passou para chegar até aqui. Ardeu, fogo nas veias,de queimar a alma com água gelada. Mas por hora, bailarina, é só bailar... bailar... Que seu amor tarda a aparecer, penso que ele não vem, não vai ter ninguém pra dançar com você... Ouve? É a orquestra... A música está quase no fim... As pessoas começam a conversar, percebe o alvoroço? Estão falando de você e sua dança menina! a música... está... quase no fim. Hora de findar o espetáculo... Vejo seus movimentos mais lentos, passinhos rápidos na ponta dos pés, mãos e braços deslizam com leveza... O suor na pele, longos cabelos em mechas jogadas por todos os lados... Uma salva de palmas! Foi demais te ver sofrer mais uma noite...
Depois da platéia, perto da porta de entrada de seu inferno... Estou aqui... quase sempre estou a te observar. Trajo cartola, uma capa preta, sabe de minha existência? Vem bailar comigo... Quero fazer parte de sua dança, dividiremos então a sua dor... que poderá ser também a minha.
...
No camarote entra Catarine, vestida em seus retalhos, costurados por si em linhas negras. A bailarina ainda está a voar... Tem um bilhete colado no espelho, uma carta embaixo do batom preto...
De Willian para Catarine...
Natália Vieira Costa Machado

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