quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a Terra. A partir do momento em que deixa o ninho, começa a procurar um espinheiro-alvar e só descansa quando o encontra. Depois, cantando entre os galhos selvagens empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E, morrendo, sublima a própria agonia e despende um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro pára para ouvi-lo, e Deus sorri no céu. Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sofrimento... Pelo menos é o que diz a lenda.

O pássaro com o espinho cravado no peito segue uma lei imutável; impelido por ela não sabe o que é empalar-se, e morre cantando. No instante em que o espinho penetra não há consciência nele de morrer futuro; limita-se a cantar e canta até não lhe sobrar vida para emitir uma única nota. Mas nós, quando enfiamos os espinhos no peito, nós sabemos. Compreendemos. E assim mesmo o fazemos. Assim mesmo o fazemos.

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